Quando a inflação vai ceder? Para economistas, fatores que elevam preços persistirão.
- rafaelsantannamaga
- 16 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Diante de condições globais que pressionam os custos, a alta da Selic ainda não trouxe alívio – o que indica que a taxa pode subir além do esperado.

A inflação está em alta e não há expectativa de alívio em curto prazo. São muitos os fatores que pressionam os preços – locais e internacionais – e dificilmente todos vão ceder nos próximos meses. Os aumentos da taxa básica de juros promovidos pelo Banco Central ainda não foram capazes de conter os índices inflacionários. Nesse sentido, a Selic tende a permanecer em patamar elevado por um bom tempo e pode até ser majorada acima do esperado até o final de 2022. A persistência da inflação já está acontecendo. O núcleo da inflação e o nível de difusão tiveram forte aceleração”, observou André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em abril, os aumentos se espalharam por um número maior de itens, com o índice de difusão em 78,25%, o mais alto desde janeiro de 2003. Ou seja, a inflação está mais generalizada.
Diversos fatores pressionam a inflação não só no Brasil, mas no mundo. Eles se acumulam desde meados de 2020, quando, após alguns meses de paralisia no início da pandemia de Covid-19, a demanda internacional por produtos retornou com força, na esteira dos pacotes de estímulo lançados por vários países. A oferta não acompanhou, houve paradas de produção na China, formação de gargalos de logística e aumentos generalizados de custos.
Antes que a situação se normalizasse por completo, veio a invasão da Ucrânia pela Rússia e um novo lockdown na China, desta vez em Xangai, reduzindo a oferta de produtos no mercado internacional – e mais uma vez atrapalhando as cadeias de abastecimento. A interrupção do comércio com a Ucrânia e com a Rússia fez disparar os preços de produtos com forte impacto na economia brasileira, como petróleo e derivados, além do trigo.
Como é impossível saber qual será a duração e o alcance da guerra, os preços destas commodities devem continuar altos. Ao mesmo tempo, não dá para descartar novas ondas de contaminação pela Covid e mais paradas de produção na China, frente à política de tolerância zero do país com o vírus.
Ao mesmo tempo, como o atual processo inflacionário é um fenômeno mundial, os Estados Unidos começaram a aumentar sua taxa básica de juros, e o mesmo deve ocorrer em outros países desenvolvidos. A inflação acumulada em 12 meses nos EUA está em 8,3%. Nesse cenário, o Brasil já começou a perder dinheiro de investidores internacionais, que preferem aplicar seus recursos em títulos de economias maduras quando os juros sobem por lá.
Tal inversão de fluxo tem impacto no câmbio. O dólar voltou a subir em relação ao real depois de um período de baixa. O dólar valorizado faz com que produtos importados fiquem ainda mais caros. Itens como petróleo e trigo estão na base da economia e impactam do gás de cozinha ao pão francês. Na seara interna, as incertezas em relação às eleições presidenciais deste ano podem contribuir para desvalorizar ainda mais o real.
Combustíveis e alimentos caros penalizam principalmente os mais pobres. O desemprego continua alto e parte da população está saindo da pandemia mais empobrecida. Juros nas alturas
Paralelamente, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) aumenta a Selic. Na última reunião, no início de maio, a taxa foi ampliada em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano. O Copom começou a majorar os juros em março de 2021, mas os efeitos na inflação ainda não foram sentidos. Isso ocorre porque boa parte das pressões inflacionarias vem dos custos – da oferta – e está atrelada a questões externas. Há, entretanto, pressões de demanda e é possível que algum efeito das altas da Selic comecem a aparecer em breve. “Não dá para saber se o aumento dos juros terá a eficácia desejada ou não, mas no mundo todo isso funciona”, declarou José Júlio Senna, do Ibre-FGV. “A inflação pode demorar para ceder”.
Senna afirma que há inflação de demanda, apesar do fraco desempenho da economia brasileira. Segundo ele, os últimos números do IBGE mostram que houve um “desvio” da demanda das famílias do setor de serviços para o de bens de consumo.
O economista lembra que o Auxílio Brasil, que tem valor maior que o antigo Bolsa Família, e a autorização de saques extraordinários do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) alimentam a demanda por bens. O avanço dos gastos públicos são outro fator de pressão.
“Do ponto de vista da política monetária, isso é o que dá para fazer (aumentar os juros). A política contracionista ajuda a conter a demanda e sinaliza que o Banco Central está atento e empenhado em conter a inflação”, destacou Senna. Ancoragem conforme os juros aumentam e as inflação não cede, diminui a capacidade do Banco Central de “ancorar as expectativas”. Ou seja, a autoridade monetária não consegue transmitir confiança aos agentes econômicos que irá conseguir conter a inflação conforme planejado.
Nesta lógica, os agentes econômicos tendem a ampliar suas projeções de inflação e a trabalhar a partir destes dados ampliados. Para evitar esta antecipação de expectativas, o BC precisa recuperar sua capacidade de ancoragem. Nesse sentido, os economistas avaliam que a autoridade monetária irá manter os juros em patamar elevado ainda por um bom tempo e podem ocorrer aumentos além do previsto.
Fonte: Infomoney
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